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Guitarra

Jorge Henrique Silva Leite de Souza Ribeiro

Captadores! O que são? Para que servem? Como funcionam? pt.2

Publicado por Jorge Henrique Silva Leite de Souza Ribeiro. 

Captador de bobina simples

            Os mais comuns são os modelos padrão Fender, que utilizam ímãs cilíndricos individuais para cada corda, em alguns casos há diferenças de altura (Stratocaster), isso se deve às limitações da época, já que as cordas de aço eram diferentes, logo foi definida a diferença de altura dos polos magnéticos em relação a vibração de cada corda, hoje isso não é mais necessário, porém as características se mantiveram por questões produtivas e estéticas, há também captadores com placa de metal na parte inferior e, ou, com capa de metal (Telecaster e Jaguar), isso muda as características do campo magnético, que possuem um tom bem característico, assim como também há casos de captadores com carretéis mais finos e largos, que mudam a espira de cobre (Jazzmaster), isso também altera as características do tom.

            No geral os captadores desse tipo tendem a utilizar ímãs de AlNiCo, Cerâmicos e ter espiras que vão de 5.400 a 6.200 voltas no carretel, mas existem casos onde as voltas podem chegar e até mesmo ultrapassar 7.000. 

 

            Os P-90 Gibson funcionam com dois imãs em bloco na parte inferior do captador ligados a parafusos individuais para ajuste, essa característica se deve a necessidade de ajustar a captação com relação à altura das cordas na época em que esse captador foi inventado, com a invenção das pontes ajustáveis essa necessidade desapareceu, porém, a característica se manteve. No geral os P-90 tendem a ter espiras com 10.000 voltas de fio de cobre no carretel, o que define um som mais cheio, volumoso, graves acentuados, utilizam ímãs de AlNiCo e cerâmicos.

Captador de bobina múltipla ou resistente a ruído (Double coil ou Humbucker)

            O primeiro modelo foi o "Filtertron", patenteado pela Gretsch em 1955, quase na mesma época que o "Humbucker" da Gibson, são muito parecidos em concepção, mas completamente diferentes em construção e características sonoras, o "Filtertron" utiliza um ímã maior e tem polos parafusos ajustáveis em ambas bobinas, porém há modelos com polos em linha ao invés de parafuso, já o "Humbucker" tem parafusos em uma das bobinas mas não são ajustáveis como os do P-90, existem modelos com capa de vários metais, sem capa, com polos ajustáveis em ambas bobinas, sem polo ajustável, com polos em linha etc., assim como existem carretéis com cores diferentes também, já o "Filtertron" não tem capa removível, assim como o "Wide Range" (que a capa pode ser removida, só não é indicado), que é o mais raro e utiliza os polos parafusos como ímãs em disposição alternada, tendo três aparentes de um lado de uma das bobinas e três do outro lado da outra (como ilustrado na fotografia).

            Apesar do senso comum, o "Wide Range" não é o único captador resistente a ruído da Fender, o captador do "precision bass" também é, inclusive tem bobina dupla, a diferença é que uma bobina é para as duas primeiras cordas e a outra é para as duas últimas, ao invés de as duas bobinas abrangerem todas as cordas, esse conceito também foi utilizado no Fender XII (guitarra de 12 cordas) e nas guitarras G&L com o "Z coil" que recebeu esse nome por ter uma capa em formato de Z.

            A Gibson e Gretsch não ficaram para trás na inovação, ambas desenvolveram modelos miniaturas de seus captadores resistentes a ruído, com destaque para Gibson que possui dois modelos com construção diferente, um deles utiliza polos em linha, o outro é idêntico ao "Humbucker", sendo apenas a versão miniatura, o som é diferente, já que tem menos voltas no carretel, tendo um som muito mais próximo do som de um captador de bobina única, porém, com menos ruído.

            No geral os captadores resistentes a ruído tendem a ter cada carretel com espiras de 5.000 voltas, dando o total de 10.000 voltas, isso muda para as miniaturas que são entre 6.000 e 8.000 voltas, assim como para o "Wide Range" que tem em torno de 17.000 voltas, no geral os ímãs utilizados são AlNiCo e cerâmico, mas novamente o "Wide Range" é exceção com o CuNiFe, que é próximo de um AlNiCo 2, talvez um pouco mais fraco, o que explica tantas voltas no carretel, algumas empresas especializadas na construção desse tipo de captador tendem a usar materiais diferentes para alterar as propriedades do campo magnético e mudar o som.

            Há também o captador de bobina dupla empilhada, como o P-100 da Gibson e a série "noiseless" da Fender, que funcionam da mesma maneira que os outros, o que muda é a disposição das bobinas.

Outros tipos

            Nem todos os captadores seguem os modelos Fender, Gretsch e Gibson, apesar desses serem os mais famosos, há outros modelos, como os captadores de bobina única da Danelectro, conhecidos como "tubos de batons" ("lipstick"), essa nomenclatura se deve ao fato de que os primeiros modelos desse captador utilizavam tubos de batom reciclados, esses captadores possuem um som bem característico devido sua construção "incomum", hoje em dia existem modelos de bobina única e de bobina dupla deles.

            Há também os captadores DeArmond, que por si só foi uma das primeiras marcas exclusivas de captadores, fornecendo para diversas marcas de guitarra, sua concepção é igual ao dos captadores Fender, mudando apenas a bobina e a capa, com a adição de polos ajustáveis junto aos polos magnéticos, o que cria um som característico, fácil de reconhecer nas músicas dos anos 1940 e 1950, por anos foi a principal fornecedora da Gretsch. Os famosos captadores “torradeira” ("toaster") da Rickenbacker e os captadores Mosrite também tem concepção igual aos Fender, com algumas mudanças na construção, curiosamente a Rickenbacker criou a primeira guitarra sólida com captador ainda nos anos 1930, no caso era uma guitarra havaiana, o captador usado era chamado de captador de ferradura ("horseshoe pickup"), um modelo arcaico que perdia as propriedades magnéticas em alguns anos, mas as características estéticas desse captador continuaram em alguns de seus famosos baixos.

            Antes de ser comprada pela Gibson, a Epiphone tinha seus próprios captadores, chamados novaiorquinos ("New Yorker"), apesar de serem captadores de bobina única, novamente similares aos Fender, porém a concepção desses captadores antecede a própria Fender, a construção é bem diferente também e por serem feitos de forma artesanal, tendiam a ser diferentes uns dos outros, podiam variar com espiras de 3.000 voltas de fio de cobre a 8.000, podiam ter polos ajustáveis ou não, no geral eram como os captadores fender, porém a bobina ficava na horizontal ao invés de vertical.

O futuro dos captadores

            No geral, a construção de captadores é a mesma desde os anos 1940, poucas alterações foram feitas nas últimas décadas, o que define um captador ainda são suas bobinas, ímãs e fios, porém há novas concepções hoje em dia, como os "Alumitone" da Lace Sensor, que possuem uma construção completamente diferente, não possuem bobinas, utilizam o próprio corpo do captador como se fosse uma.

            Mas o melhor exemplo são os captadores "fishrman fluence", que não possuem nem ímãs e nem bobinas, são compostos de várias camadas de circuitos elétricos e na prática funcionam como um sensor de movimento que desempenha a mesma função de um captador, mas ao invés de captar a vibração das cordas através das ondas magnéticas, o sensor capta o movimento e processa o som, logo esses captadores são necessariamente ativos, dependem de uma fonte de alimentação externa para funcionar, com o avanço das baterias fica cada vez mais fácil utilizar esse tipo de sistema, é até mesmo possível que sem um campo magnético de um ímã para “puxar” as cordas a vibração dure mais, assim como o funcionamento do sensor acaba captando nuances nessa vibração que o captador comum é incapaz de captar, mas também é possível que essas diferenças sejam tão mínimas que seja imperceptível.

Fim?

            Ainda não há um fim definido para os captadores tradicionais, inclusive é possível que retornem ainda mais triunfantes com as novas tecnologias, afinal, nanotubos de carbono e grafeno tem propriedades de condução melhores que as do cobre, um filamento de nanotubos pode garantir mais voltas em um carretel de uma bobina do que é possível com cobre, o mesmo pode se dizer das propriedades do grafeno, agora só falta esperar o processo industrial destes se tornar mais em conta.

Fontes:

Price, Huw; “FILTER’TRON SHOOTOUT: GRETSCH, HOUSE OF TONE, TV JONES, MCNELLY AND MORE”, 2020, disponível em: https://guitar.com/review/accessories/filtertron-shootout-gretsch-house-of-tone-tv-jones-mcnelly-mojo-pickups/

The Gear Page; “Vintage Fender Wide Range Humbucker Question”, 2009, disponível em: https://br.pinterest.com/pin/766597167802377401/

Mistrz-garfunkel; “Fender Precision Bass split coil pickup.”, 2008, disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/62/Precision_Bass_pickup.jpg

Craig; “Under the cover: Z-coil pickup”, 2022, disponível em: http://www.guitarsbyleo.com/FORUM/viewtopic.php?f=36&t=5888

Guitar Attack; “REPAIRING A MINI-HUMBUCKER”, 2022, disponível em: http://www.guitarattack.com/winder/minihum.htm

Audiofanzine; “Rickenbacker Toaster”, 2013, disponível em: https://en.audiofanzine.com/other-guitar-pickup/rickenbacker/toaster/

Ledding Vintage Guitars; “1950s Lapsteel Horseshoe pickup rebuild”, 2022, disponível em: https://www.leddinvintageguitars.com/product/1950s-lapsteel-horseshoe-pickup-rebuild/

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